quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Simulado Realismo-Naturalismo

Problemas para entender o Realismo e o Naturalismo?
Precisando praticar antes de encarar o vestibular?
Teste seus conhecimentos de literatura com nosso simulado montado cuidadosamente com questões das maiores universidades brasileiras.

1. (FUVEST/ADAPTADA)
TEXTO PARA A QUESTÃO:
V – O samba

À direita do terreiro, adumbra-se* na escuridão um maciço de construções, ao qual às vezes recortam no azul do céu os trêmulos vislumbres das labaredas fustigadas pelo vento.
(...)
É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome que tem um grande pátio cercado de senzalas, às vezes com alpendrada corrida em volta, e um ou dois portões que o fecham como praça d’armas.
Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dançam os pretos o samba com um frenesi que toca o delírio. Não se descreve, nem se imagina esse desesperado saracoteio, no qual todo o corpo estremece, pula, sacode, gira, bamboleia, como se quisesse desgrudar-se.
Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam no cangote das mães, ou se enrolam nas saias das raparigas. Os mais taludos viram cambalhotas e pincham à guisa de sapos em roda do terreiro. Um desses corta jaca no espinhaço do pai, negro fornido, que não sabendo mais como desconjuntar-se, atirou consigo ao chão e começou de rabanar como um peixe em seco. (...)

José de Alencar, Til.
(*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se. 
Ao comentar o romance Til e, inclusive, a cena do capítulo “O samba”, aqui reproduzida, Araripe Jr., parente do autor e estudioso de sua obra, observou que esses são provavelmente os textos em que Alencar “mais se quis aproximar dos padrões” de uma “nova escola”, deixando, neles, reconhecível que, “no momento” em que os escreveu, “algum livro novo o impressionara, levando-o pelo estímulo até superfetar* a sua verdadeira índole de poeta”. Alguns dos procedimentos estilísticos empregados na cena aqui reproduzida indicam que a “nova escola” e o “livro novo” a que se refere o crítico pertencem ao que historiadores da literatura chamaram de

(*) “superfetar” = exceder, sobrecarregar, acrescentar-se (uma coisa a outra).

a) Romantismo-Condoreirismo.  
b) Idealismo-Determinismo.  
c) Realismo-Naturalismo. 
d) Parnasianismo-Simbolismo.  
e) Positivismo-Impressionismo.  


2. (FUVEST)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Morro da Babilônia

À noite, do morro
descem vozes que criam o terror
(terror urbano, cinquenta por cento de cinema,
e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua geral).

Quando houve revolução, os soldados se espalharam no morro,
o quartel pegou fogo, eles não voltaram.
Alguns, chumbados, morreram.
O morro ficou mais encantado.

Mas as vozes do morro
não são propriamente lúgubres.
Há mesmo um cavaquinho bem afinado
que domina os ruídos da pedra e da folhagem
e desce até nós, modesto e recreativo,
como uma gentileza do morro.

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. 

Guardadas as diferenças que separam as obras a seguir comparadas, as tensões a que remete o poema de Drummond derivam de um conflito de
a) caráter racial, assim como sucede em A cidade e as serras.  
b) grupos linguísticos rivais, de modo semelhante ao que ocorre em Viagens na minha terra.  
c) fundo religioso e doutrinário, como o que agita o enredo de Til.  
d) classes sociais, tal como ocorre em Capitães da areia.
e) interesses entre agregados e proprietários, como o que tensiona as Memórias póstumas de Brás Cubas. 


3. (MACKENZIE)
Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap.IX, vers. 1: “Não tenhas ciúmes de tua mulher, para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti”. Mas eu creio que não, 1e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, 2como a fruta dentro da casca.

Machado de Assis, D.Casmurro

Considerado o fragmento no contexto do romance, assinale a alternativa correta.
a) O narrador onisciente, ao confirmar sua insegurança afetiva, dá pistas ao leitor de que Capitu, mesmo adulta, manteve o comportamento ingênuo da infância, tendo na verdade sido vítima da malícia do amigo Escobar.   
b) O narrador protagonista, buscando a cumplicidade do leitor (e tu concordarás comigo, ref. 1), afirma sua convicção de que a esposa, já falecida, desde muito jovem já manifestara indícios de um comportamento suspeito.
c) A ambiguidade do discurso de Bento Santiago converge para a expressão como a fruta dentro da casca (ref. 2) que pode ser lida tanto como prova da inocência da esposa como, ao contrário, prova de sua culpa.   
d) Valendo-se de um discurso tendencioso, o advogado Bento Santiago evita ressalvas e modalizações na fala, expondo ao leitor inquestionáveis indícios da traição de sua mulher Capitu.   
e) O discurso bíblico citado no início do fragmento revela que o narrador, preocupado em caracterizar o comportamento da esposa infiel, omite informações importantes acerca de si próprio.  


4. (UNIFESP)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
                Amaro lia até tarde, um pouco perturbado por aqueles períodos sonoros, túmidos de desejo; e no silêncio, por vezes, sentia em cima ranger o leito de Amélia; o livro escorregava-lhe das mãos, encostava a cabeça às costas da poltrona, cerrava os olhos, e parecia-lhe vê-la em colete diante do toucador desfazendo as tranças; ou, curvada, desapertando as ligas, e o decote da sua camisa entreaberta descobria os dois seios muito brancos.
                Erguia-se, cerrando os dentes, com uma decisão brutal de a possuir.
                Começara então a recomendar-lhe a leitura dos Cânticos a Jesus.
                – Verá, é muito bonito, de muita devoção! Disse ele, deixando-lhe o livrinho uma noite no cesto da costura.
                Ao outro dia, ao almoço, Amélia estava pálida, com as olheiras até o meio da face. Queixou-se de insônia, de palpitações.
                – E então, gostou dos Cânticos?
                – Muito. Orações lindas! respondeu.
                Durante todo esse dia não ergueu os olhos para Amaro. Parecia triste – e sem razão, às vezes, o rosto abrasava-se-lhe de sangue.

(Eça de Queirós. O crime do padre Amaro.)


O trecho em que a ação de uma personagem se demonstra impregnada de determinismo biológico e permite associar o romance de Eça de Queirós ao movimento estético denominado Naturalismo é:
a) Erguia-se, cerrando os dentes, com uma decisão brutal de a possuir.
b) Começara então a recomendar-lhe a leitura dos Cânticos a Jesus.   
c) (...) deixando-lhe o livrinho uma noite no cesto da costura.   
d) Queixou-se de insônia, de palpitações.   
e) Durante todo esse dia não ergueu os olhos para Amaro.   


5. (UNIFESP)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
                (...) Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.
                Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, – algumas vezes gemendo – mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um – “ai, nhonhô!” – ao que eu retorquia: “Cala a boca, besta!” – Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos.
                Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.

(Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.)


É correto afirmar que
a) se trata basicamente de um texto naturalista, fundado no Determinismo.   
b) o texto revela um juízo crítico do contexto escravista da época.
c) o narrador se apresenta bastante sizudo e amargo, bem ao gosto machadiano.   
d) o texto apresenta papéis sociais ambíguos das personagens em foco.   
e) os comportamentos desumanos do narrador são sutilmente desnudados.   


6. (UNIFESP)
As provocações no recreio eram frequentes, oriundas do enfado; irritadiços todos como feridas; os inspetores a cada passo precisavam intervir em conflitos; as importunações andavam em busca das suscetibilidades; as suscetibilidades a procurar a sarna das importunações. Viam de joelhos o Franco, puxavam-lhe os cabelos. Viam Rômulo passar, lançavam-lhe o apelido: mestre-cuca!
                Esta provocação era, além de tudo, inverdade. Cozinheiro, Rômulo! Só porque lembrava culinária, com a carnosidade bamba, fofada dos pastelões, ou porque era gordo das enxúndias enganadoras dos fregistas, dissolução mórbida de sardinha e azeite, sob os aspectos de mais volumosa saúde?
                (...)
                Rômulo era antipatizado. Para que o não manifestassem excessivamente, fazia-se temer pela brutalidade. Ao mais insignificante gracejo de um pequeno, atirava contra o infeliz toda a corpulência das infiltrações de gordura solta, desmoronava-se em socos. Dos mais fortes vingava-se, resmungando intrepidamente.
                Para desesperá-lo, aproveitavam-se os menores do escuro. Rômulo, no meio, ficava tonto, esbravejando juras de morte, mostrando o punho. Em geral procurava reconhecer algum dos impertinentes e o marcava para a vindita. Vindita inexorável.
                No decorrer enfadonho das últimas semanas, foi Rômulo escolhido, principalmente, para expiatório do desfastio. Mestrecuca! Via-se apregoado por vozes fantásticas, saídas da terra; mestre-cuca! Por vozes do espaço rouquenhas ou esganiçadas. Sentava-se acabrunhado, vendo se se lembrava de haver tratado panelas algum dia na vida; a unanimidade impressionava. Mais frequentemente, entregava-se a acessos de raiva. Arremetia bufando, espumando, olhos fechados, punhos para trás, contra os grupos. Os rapazes corriam a rir, abrindo caminho, deixando rolar adiante aquela ambulância danada de elefantíase.

(Raul Pompeia. O Ateneu.)

Considere as seguintes afirmações.
I. A alcunha de mestre-cuca, recebida por Rômulo, advinha do fato de ter praticado, anteriormente, a arte culinária.
II. As agressões e humilhações sofridas por Rômulo eram essencialmente motivadas por sua antipatia.
III. As reações de Rômulo às provocações dos colegas variavam conforme as circunstâncias.

De acordo com o texto, está correto o que se afirma apenas em
a) I.   
b) II.   
c) III.
d) I e II.   
e) II e III.   


7. (FUVEST)
Inimigo da riqueza e do trabalho, amigo das festas, da música, do corpo das cabrochas. Malandro. Armador de fuzuês. Jogador de capoeira navalhista, ladrão quando se fizer preciso.

Jorge Amado, Capitães de areia.

O tipo cujo perfil se traça, em linhas gerais, neste excerto, aparece em romances como Memórias de um sargento de milícias, O cortiço, além de Capitães de areia. Essa recorrência indica que
a) certas estruturas e tipos sociais originários do período colonial foram repostos durante muito tempo, nos processos de transformação da sociedade brasileira.
b) o atraso relativo das regiões Norte e Nordeste atraiu para elas a migração de tipos sociais que o progresso expulsara do Sul/Sudeste.   
c) os romancistas brasileiros, embora críticos da sociedade, militaram com patriotismo na defesa de nossas personagens mais típicas e mais queridas.   
d) certas ideologias exóticas influenciaram negativamente os romancistas brasileiros, fazendo-os representar, em suas obras, tipos sociais já extintos quando elas foram escritas.   
e) a criança abandonada, personagem central dos três livros, torna-se, na idade adulta, um elemento nocivo à sociedade dos homens de bem.   


8. (UNIFESP)
Considere o trecho de O Cortiço, de Aluísio Azevedo.

Uma aluvião de cenas, que ela [Pombinha] jamais tentara explicar e que até ali jaziam esquecidas nos meandros do seu passado, apresentavam-se agora nítidas e transparentes. Compreendeu como era que certos velhos respeitáveis, cuja fotografia Léonie lhe mostrou no dia que passaram juntas, deixavam-se vilmente cavalgar pela loureira, cativos e submissos, pagando a escravidão com a honra, os bens, e até com a própria vida, se a prostituta, depois de os ter esgotado, fechava-lhes o corpo. E continuou a sorrir, desvanecida na sua superioridade sobre esse outro sexo, vaidoso e fanfarrão, que se julgava senhor e que, no entanto, fora posto no mundo simplesmente para servir ao feminino; escravo ridículo que, para gozar um pouco, precisava tirar da sua mesma ilusão a substância do seu gozo; ao passo que a mulher, a senhora, a dona dele, ia tranquilamente desfrutando o seu império, endeusada e querida, prodigalizando martírios, que os miseráveis aceitavam contritos, a beijar os pés que os deprimiam e as implacáveis mãos que os estrangulavam.
— Ah! homens! homens! ... sussurrou ela de envolta com um suspiro.

No texto, os pensamentos da personagem
a) recuperam o princípio da prosa naturalista, que condena os assuntos repulsivos e bestiais, sem amparo nas teorias científicas, ligados ao homem que põe em primeiro plano seus instintos animalescos.   
b) elucidam o princípio do determinismo presente na prosa naturalista, revelando os homens e as mulheres conscientes dos seus instintos em função do meio em que vivem e, sobretudo, capazes de controlá-los.   
c) trazem uma crítica aos aspectos animalescos próprios do homem, mas, por outro lado, revelam uma forma de Pombinha submeter a muitos deles para obter vantagens: eis aí um princípio do Realismo rechaçado no Naturalismo.   
d) constroem uma visão de mundo e do homem idealizada, o que, em certa medida, afronta o referencial em que se baseia a prosa naturalista, que define o homem como fruto do meio, marcado pelo apelo dos seus sentidos.   
e) consubstanciam a concepção naturalista de que o homem é um animal, preso aos instintos e, no que dizem respeito à sexualidade, vê-se que Pombinha considera a mulher superior ao homem, e esse conhecimento é uma forma de se obterem vantagens.    



9. (FUVEST)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO

                Assim se explicam a minha estada debaixo da janela de Capitu e a passagem de um cavaleiro, um dandy, como então dizíamos. Montava um belo cavalo alazão, firme na sela, rédea na mão esquerda, a direita à cinta, botas de verniz, figura e postura esbeltas: a cara não me era desconhecida. Tinham passado outros, e ainda outros viriam atrás; todos iam às suas namoradas. Era uso do tempo namorar a cavalo. Relê Alencar: "Porque um estudante (dizia um dos seus personagens de teatro de 1858) não pode estar sem estas duas coisas, um cavalo e uma namorada". Relê Álvares de Azevedo. Uma das suas poesias é destinada a contar (1851) que residia em Catumbi, e, para ver a namorada no Catete, alugara um cavalo por três mil-réis...
Machado de Assis. Dom Casmurro.

Considerando-se o excerto no contexto da obra a que pertence, pode-se afirmar corretamente que as referências a Alencar e a Álvares de Azevedo revelam que, em "Dom Casmurro", Machado de Assis:

a) expôs, embora tardiamente, o seu nacionalismo literário e sua consequente recusa de leituras estrangeiras.   
b) negou ao Romantismo a capacidade de referir-se à realidade, tendo em vista o hábito romântico de tudo idealizar e exagerar.   
c) recusou, finalmente, o Realismo, para começar o retorno às tradições românticas que irá caracterizar seus últimos romances.   
d) declarou que o passado não tem relação com o presente e que, portanto, os escritores de outras épocas não mais merecem ser lidos.   
e) utilizou, como em outras obras suas, elementos do legado de seus predecessores locais, alterando-lhes, entretanto, contexto e significado.    


10. (MACKENZIE)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
CAPÍTULO CII - DE CASADA

Imagina um relógio que só tivesse pêndulo, sem mostrador, de maneira que não se vissem as horas escritas. O pêndulo iria de um lado para outro, mas nenhum sinal externo mostraria a marcha do tempo. Tal foi aquela semana da Tijuca.
De quando em quando, tornávamos ao passado e divertíamo-nos em relembrar as nossas tristezas e calamidades, mas isso mesmo era um modo de não sairmos de nós. Assim vivemos novamente a nossa longa espera de namorados, os anos da adolescência, a denúncia que está nos primeiros capítulos, e ríamos de José Dias que conspirou a nossa desunião, e acabou festejando o nosso consórcio.
Machado de Assis, Dom Casmurro

Dom Casmurro é narrado em estilo de memórias: quem conta a história é o protagonista, que evoca seu próprio passado. Outra conhecida obra da literatura brasileira, relatando as memórias da personagem principal, NÃO tem como narrador o próprio protagonista. Fragmento dessa obra que comprova o que se afirma sobre seu narrador é:
a) "Eram assim as viagens do meu avô, quando ele saía a correr todas as suas grotas, revendo os pés-de-pau de seu engenho." (Menino de engenho)   
b) "Enfim! Eis aqui Virgínia. Antes de ir à casa do Conselheiro Dutra, perguntei a meu pai se havia algum ajuste prévio de casamento." (Memórias póstumas de Brás Cubas)   
c) "Passemos por alto os anos que decorreram desde o nascimento e batizado de nosso memorando, e vamos encontrá-lo já na idade de sete anos." (Memórias de um sargento de milícias)
d) "Na casa de tia Gabriela havia o espaço de meus livros num sofá fronteiro para mamãe me olhar." (Memórias sentimentais de João Miramar)   
e) "Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego." (Grande sertão: veredas)   



11. (UNIFESP)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO 1


TEXTO 2

Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho (...) E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias.) 


Com base nas informações da figura, é CORRETO afirmar que Leonardo:
a) Acreditava que a vida no Brasil poderia ser tão interessante quanto a de Portugal.    
b) Saiu de Portugal em companhia de sua namorada, Maria da Hortaliça.    
c) Buscava um ofício lucrativo e agradável no Brasil, como o que tinha em Portugal.    
d) Veio ao Brasil em razão de seu enfado com a vida que levava em Portugal.
e) Via o Brasil como um lugar de raras chances de êxito pessoal.   



12. (PUC – SP)
Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: "Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti". Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.
E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à História dos Subúrbios.

O trecho acima integra o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. O conhecimento dessa obra como um todo, e o desse capítulo, em particular, autorizam a afirmar que
a) o casamento entre Capitu e Bentinho não deu certo porque a amada de seu coração tinha olhos de ressaca e de cigana oblíqua e dissimulada.   
b) o narrador não duvida em nenhum momento de que a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos.   
c) o último parágrafo confirma a mágoa que o narrador expressa diante da comprovação de ter sido enganado por amigos tão extremosos e tão queridos.   
d) o ciúme de Bentinho por Capitu levou-a a pôr em prática a advertência do versículo bíblico.   
e) o ciúme de Bentinho foi a causa de todo o seu conflito pessoal e determinante da desconfiança que levou à separação.


13. (MACKENZIE)
Vários autores afirmam que a diferença entre Realismo e Naturalismo é muito sutil.
Um dos trechos a seguir é claramente naturalista. Assinale a alternativa em que ele aparece.
a) "Desesperado, deixou o cravo, pegou do papel escrito e rasgou-o. Nesse momento, a moça, embebida no olhar do marido, começou a cantarolar à toa, inconscientemente, uma cousa nunca antes cantada nem sabida..."   
b) "Enfim chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos."   
c) "Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro do café aquecia, suplantando todos os outros..."   
d) "Foi por esse tempo que eu me reconciliei outra vez com o Cotrim, sem chegar a saber a causa do dissentimento. Reconciliação oportuna, porque a solidão pesava-me, e a vida era para mim a pior das fadigas, que é a fadiga sem trabalho."   
e) "E enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida."   


14. (MACKENZIE)
Sobre Machado de Assis, é INCORRETO afirmar que:
a) antes de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", publicou romances que ainda apresentavam algumas características românticas.   
b) seu teatro, embora menos conhecido, atinge o mesmo nível de grandiosidade alcançado por Martins Pena.
c) sua poesia madura encontra-se em "Ocidentais", em que se revelam características parnasianas.   
d) é nos romances de sua segunda fase que se encontram seus traços mais marcantes, como o aprofundamento psicológico dos personagens, o pessimismo e o ceticismo.   
e) "Páginas Recolhidas" é uma coletânea de crônicas, motivadas por matérias jornalísticas e desenvolvidas com o apoio de alusões literárias.   


15. (MACKENZIE)
Por suas características, não se encaixa na prosa machadiana o trecho que aparece na alternativa:
a) "Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento."   
b) "A leitora, que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da cavatina de ontem para a valsa de hoje, quer fechá-lo às pressas, ao ver que beiramos um abismo. Não faça isso, querida; eu mudo de rumo."   
c) "... Não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio."   
d) "Não sou criança, nem idiota; vivo só e vejo de longe; mas vejo. Não pode imaginar. Os gênios fazem aqui dois sexos como se fosse uma escola mista. Os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo."   
e) "O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? por que coxa, se bonita?"   

Gabarito

1. C         2. D         3. B         4. A         5. B         6. C      7. A    8. E         9. E         10. C     11. D         12. E         13. C         14. B         15. D

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Você já ouviu falar em PAS?

Algumas universidades brasileiras já adotaram um processo seletivo diferente no momento do ingresso de seus alunos.
A UnB (Universidade de Brasília) e a UEM (Universidade Estadual de Maringá), por exemplo, já adotaram esse sistema, que funciona da seguinte maneira: o aluno faz 3 provas, uma no final de cada ano do ensino médio levando em consideração o conteúdo estudado em cada ano.
O interessante é a lista de livros do PAS da UnB (os chamados Objetos de Avaliação). Além de livros, a lista inclui músicas, artes visuais, artigos e textos filosóficos. Por isso, comecem a estudar agora!



O PAS da UEM apresenta uma característica muito interessante: o aluno tem a possibilidade de escolher outra língua estrangeira, que não seja inglês, para realizar sua prova. O Espanhol e o Francês são opções para o aluno que não se sentir à vontade com a língua inglesa, legal não é?





Para maiores informações, acessem o site das universidades e confiram as datas de inscrições e provas:

Alunos, aproveitem a oportunidade, o sistema é muito bacana e facilita a vida de vocês, já que são provas mais tranquilas e com menos conteúdo que o vestibular tradicional.
Professores, estimulem seus alunos!

Bons estudos, pessoal!


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Simulado Figuras de Linguagem

Dúvidas sobre figuras de linguagem? Resolve o simulado de hoje e tire suas dúvidas sobre o assunto!

1. (UNESP/ADAPTADA)
Leia o trecho de uma elegia de Vinicius de Moraes (1913-1980) para responder à questão.

Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, poeta e cidadão

A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas.
Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.
De repente não tinha pai.
No escuro de minha casa em Los Angeles procurei recompor tua lembrança
Depois de tanta ausência. Fragmentos da infância
Boiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu menino
Correndo ao teu encontro. Na ilha noturna
Tinham-se apenas acendido os lampiões a gás, e a clarineta
De Augusto geralmente procrastinava a tarde.
Era belo esperar-te, cidadão. O bondinho
Rangia nos trilhos a muitas praias de distância...
Dizíamos: “Ê-vem meu pai!”. Quando a curva
Se acendia de luzes semoventes*, ah, corríamos
Corríamos ao teu encontro. A grande coisa era chegar antes
Mas ser marraio** em teus braços, sentir por último
Os doces espinhos da tua barba.
Trazias de então uma expressão indizível de fidelidade e paciência
Teu rosto tinha os sulcos fundamentais da doçura
De quem se deixou ser. Teus ombros possantes
Se curvavam como ao peso da enorme poesia
Que não realizaste. O barbante cortava teus dedos
Pesados de mil embrulhos: carne, pão, utensílios
Para o cotidiano (e frequentemente o binóculo
Que vivias comprando e com que te deixavas horas inteiras
Mirando o mar). Dize-me, meu pai
Que viste tantos anos através do teu óculo de alcance
Que nunca revelaste a ninguém?
Vencias o percurso entre a amendoeira e a casa como o atleta exausto no último lance da maratona.
Te grimpávamos. Eras penca de filho. Jamais
Uma palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a casa
humilde
A um gesto do mar. A noite se fechava
Sobre o grupo familial como uma grande porta espessa.
Muitas vezes te vi desejar. Desejavas. Deixavas-te olhando o mar
Com mirada de argonauta. Teus pequenos olhos feios
Buscavam ilhas, outras ilhas... — as imaculadas, inacessíveis
Ilhas do Tesouro. Querias. Querias um dia aportar
E trazer — depositar aos pés da amada as joias fulgurantes
Do teu amor. Sim, foste descobridor, e entre eles
Dos mais provectos***. Muitas vezes te vi, comandante
Comandar, batido de ventos, perdido na fosforência
De vastos e noturnos oceanos
Sem jamais.
Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste
A suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade de amar
Em silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amor
Em silêncio. Foste um no lado esquerdo. Mas
Teu amor inventou. Financiaste uma lancha
Movida a água: foi reta para o fundo. Partiste um dia
Para um brasil além, garimpeiro sem medo e sem mácula.
Doze luas voltaste. Tua primogênita — diz-se —
Não te reconheceu. Trazias grandes barbas e pequenas águas-marinhas.
(Vinicius de Moraes. Antologia poética. 11 ed.
Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1974, p. 180-181.)

(*) Semovente: “Que ou o que anda ou se move por si próprio.”
(**) Marraio: “No gude e noutros jogos, palavra que dá, a quem primeiro a grita, o direito de ser o último a jogar.”
(***) Provecto: “Que conhece muito um assunto ou uma ciência, experiente, versado, mestre.”
(Dicionário Eletrônico Houaiss)


O barbante cortava teus dedos / Pesados de mil embrulhos:

O emprego da expressão mil embrulhos no verso mencionado caracteriza-se como figura de linguagem denominada hipérbole, porque
a) é uma imagem exagerada, mas expressiva, do fato referido no verso. 
b) “barbante” aparece personificado, com atitudes humanas.
c) ocorre uma comparação entre um fato real e um fato fictício.
d) o eu-poemático tenta precisar metonimicamente o que não é preciso.
e) há uma relação de contiguidade semântica entre “dedos” e “embrulhos”.


2. (UNIFESP)


O efeito de humor da tira advém, dentre outros fatores, da
a) ironia, verificada na fala da personagem como intenção clara de afirmar o contrário daquilo que está dizendo.
b) paronomásia, verificada pelo emprego de palavras parecidas na escrita e na pronúncia, à moda de um trocadilho.
c) metáfora, verificada pelo emprego de termos que podem se cambiar como formas sinônimas no enunciado.
d) metonímia, verificada pelo emprego de uma palavra em lugar de outra por uma relação de contiguidade.
e) onomatopeia, verificada pelo recurso à sonoridade das palavras, que atribui outros sentidos ao enunciado.

3. (UFSCAR/ADAPTADA)
Leia o texto a seguir para responder à questão

— Não refez então o capítulo? – indagou ela logo que entrei.
— Oh, não, Miss Jane. Suas palavras abriram-me os olhos. Convenci-me de que não possuo qualidades literárias e não quero insistir – retruquei com ar ressentido.
— Pois tem de insistir – foi sua resposta (...) Lembre-se do esforço incessante de Flaubert* para atingir a luminosa clareza que só a sábia simplicidade dá. A ênfase, o empolado, o enfeite, o contorcido, o rebuscamento de expressões, tudo isso nada tem com a arte de escrever, porque é artifício e o artifício é a cuscuta** da arte. Puros maneirismos que em nada contribuem para o fim supremo: a clara e fácil expressão da ideia.
— Sim, Miss Jane, mas sem isso fico sem estilo ...
Que finura de sorriso temperado de meiguice aflorou nos lábios da minha amiga!
— Estilo o senhor Ayrton só o terá quando perder em absoluto
a preocupação de ter estilo. Que é estilo, afinal?
— Estilo é ... – ia eu responder de pronto, mas logo engasguei, e assim ficaria se ela muito naturalmente não mo definisse de gentil maneira.
— ... é o modo de ser de cada um. Estilo é como o rosto: cada qual possui o que Deus lhe deu. Procurar ter um certo estilo vale tanto como procurar ter uma certa cara. Sai máscara fatalmente – essa horrível coisa que é a máscara ...
— Mas o meu modo natural de ser não tem encantos, Miss Jane, é bruto, grosseiro, inábil, ingênuo. Quer então que escreva desta maneira?
— Pois perfeitamente! Seja como é, e tudo quanto lhe parece defeito surgirá como qualidades, visto que será reflexo da coisa única que tem valor num artista – a personalidade.

*Gustave Flaubert (1821–1880), escritor realista francês considerado um dos maiores do Ocidente.
** planta parasita.
(Monteiro Lobato, O presidente negro.)
No último parágrafo do texto, Miss Jane tenta convencer Ayrton fazendo uso de uma figura chamada
a) paradoxo.
b) elipse.
c) ironia.
d) eufemismo.
e) pleonasmo.


4. (FUVEST)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
A ROSA DE HIROXIMA

                Pensem nas crianças
                Mudas telepáticas         
                Pensem nas meninas
                Cegas inexatas
                Pensem nas mulheres
                Rotas alteradas
                Pensem nas feridas
                Como rosas cálidas
                Mas oh não se esqueçam
                Da rosa da rosa
                Da rosa de Hiroxima
                A rosa hereditária
                A rosa radioativa
                Estúpida e inválida
                A rosa com cirrose
                A antirrosa atômica
                Sem cor sem perfume
                Sem rosa sem nada.

                                               Vinicius de Moraes, Antologia poética.


Dentre os recursos expressivos presentes no poema, podem-se apontar a sinestesia e a aliteração, respectivamente, nos versos
a) 2 e 17.   
b) 1 e 5.   
c) 8 e 15.
d) 9 e 18.   
e) 14 e 3.   

5. (UNIFESP)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
                [Sem-Pernas] queria alegria, uma mão que o acarinhasse, alguém que com muito amor o fizesse esquecer o defeito físico e os muitos anos (talvez tivessem sido apenas meses ou semanas, mas para ele seriam sempre longos anos) que vivera sozinho nas ruas da cidade, hostilizado pelos homens que passavam, empurrado pelos guardas, surrado pelos moleques maiores. Nunca tivera família. Vivera na casa de um padeiro a quem chamava “meu padrinho” e que o surrava. Fugiu logo que pôde compreender que a fuga o libertaria. Sofreu fome, um dia levaram-no preso. Ele quer um carinho, u’a mão que passe sobre os seus olhos e faça com que ele possa se esquecer daquela noite na cadeia, quando os soldados bêbados o fizeram correr com sua perna coxa em volta de uma saleta. Em cada canto estava um com uma borracha comprida. As marcas que ficaram nas suas costas desapareceram. Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta como um animal perseguido por outros mais fortes. A perna coxa se recusava a ajudá-lo. E a borracha zunia nas suas costas quando o cansaço o fazia parar.
                A princípio chorou muito, depois, não sabe como, as lágrimas secaram. Certa hora não resistiu mais, abateu-se no chão. Sangrava.
                Ainda hoje ouve como os soldados riam e como riu aquele homem de colete cinzento que fumava um charuto.

(Jorge Amado. Capitães da areia.)

O emprego da figura de linguagem conhecida como “prosopopeia” (ou “personificação”) põe mais em evidência a principal razão pela qual Sem-Pernas é estigmatizado. O trecho que contém essa figura é
a) A perna coxa se recusava a ajudá-lo.    
b) Em cada canto estava um com uma borracha comprida.  
c) (...) depois, não sabe como, as lágrimas secaram.  
d) E a borracha zunia nas suas costas (...)  
e) Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora.  


6. (FUVEST)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas. Tia Tula, que achava que mormaço fazia mal, sempre gritava: “Vem pra dentro, menino, olha o mormaço!” Mas eu ouvia o mormaço com M maiúsculo. Mormaço, para mim, era um velho que pegava crianças! Ia pra dentro logo. E ainda hoje, quando leio que alguém se viu perseguido pelo clamor público, vejo com estes olhos o Sr. Clamor Público, magro, arquejante, de preto, brandindo um guarda-chuva, com um gogó protuberante que se abaixa e levanta no excitamento da perseguição. E já estava devidamente grandezinho, pois devia contar uns trinta anos, quando me fui, com um grupo de colegas, a ver o lançamento da pedra fundamental da ponte Uruguaiana-Libres, ocasião de grandes solenidades, com os presidentes Justo e Getúlio, e gente muita, tanto assim que fomos alojados os do meu grupo num casarão que creio fosse a Prefeitura, com os demais jornalistas do Brasil e Argentina. Era como um alojamento de quartel, com breve espaço entre as camas e todas as portas e janelas abertas, tudo com os alegres incômodos e duvidosos encantos de uma coletividade democrática. Pois lá pelas tantas da noite, como eu pressentisse, em meu entredormir, um vulto junto à minha cama, sentei-me estremunhado* e olhei atônito para um tipo de chiru*, ali parado, de bigodes caídos, pala pendente e chapéu descido sobre os olhos. Diante da minha muda interrogação, ele resolveu explicar-se, com a devida calma:
- Pois é! Não vê que eu sou o sereno...

Mário Quintana, As cem melhores crônicas brasileiras.

* Glossário:
estremunhado: mal acordado.
chiru: que ou aquele que tem pele morena, traços acaboclados (regionalismo: Sul do Brasil).

Considerando que “silepse é a concordância que se faz não com a forma gramatical das palavras, mas com seu sentido, com a ideia que elas representam”, indique o fragmento em que essa figura de linguagem se manifesta.
a) “olha o mormaço”.  
b) “pois devia contar uns trinta anos”.  
c) “fomos alojados os do meu grupo”.
d) “com os demais jornalistas do Brasil”.  
e) “pala pendente e chapéu descido sobre os olhos”.  

7. (FUVEST)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
[José Dias] Teve um pequeno legado no testamento, uma apólice e quatro palavras de louvor. Copiou as palavras, encaixilhou-as e pendurou-as no quarto, por cima da cama. “Esta é a melhor apólice”, dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas nem tudo é ótimo neste mundo. E não lhe suponhas alma subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das pessoas que enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era lido, posto que de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor e do frio, dos polos e de Robespierre. Contava muita vez uma viagem que fizera à Europa, e confessava que a não sermos nós, já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo.

Machado de Assis, Dom Casmurro.

Considerado o contexto, qual das expressões sublinhadas foi empregada em sentido metafórico?
a) “Teve um pequeno legado”.  
b) “Esta é a melhor apólice”.  
c) “certa audiência, ao menos”.  
d) “ao cabo, era amigo”.  
e) “o bastante para divertir”.  

8. (MACKENZIE)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Você sabia que com pouco esforço é possível ajudar o planeta e o seu bolso?
Ao usarmos a energia elétrica para aparelhos eletrônicos e lâmpadas também emitimos gás carbônico, um dos principais gases do efeito estufa. Atitudes simples como trocar lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes e puxar da tomada os aparelhos que não estão em uso reduzirão a sua conta de luz e as nossas emissões de CO2 na atmosfera.

Planeta sustentável: conhecimento por um mundo melhor


Assinale a alternativa que indica recurso empregado no texto.
a) Intertextualidade, já que se pode notar apropriação explícita e marcada, por meio de citações, de trechos de outros textos.  
b) Conotação, uma vez que o texto emprega em toda a sua extensão uma linguagem que adota tom pessoal e subjetivo.  
c) Ironia, observada no emprego de expressões que conduzem o leitor a outra possibilidade de interpretação, sempre crítica.  
d) Denotação, pois há a utilização objetiva de palavras e expressões que destacam a presença da função referencial.   
e) Metalinguagem, uma vez que a linguagem adotada serve exclusivamente para tratar da própria linguagem.  

9. (UNESP)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Motivos para pânico

Como sabemos, existem muitas frases comumente repetidas a cujo uso nos acostumamos tanto que nem observamos nelas patentes absurdos ou disparates. Das mais escutadas nos noticiários, nos últimos dias, têm sido “não há razão para pânico” e “não há motivo para pânico”, ambas aludindo à famosa gripe suína de que tanto se fala. Todo mundo as ouve e creio que a maioria concorda sem pensar e sem notar que se trata de assertivas tão asnáticas quanto, por exemplo, a antiga exigência de que o postulante a certos benefícios públicos estivesse “vivo e sadio”, como se um defunto pudesse estar sadio. Ou a que apareceu num comercial da Petrobrás em homenagem aos seus trabalhadores, que não sei se ainda está sendo veiculado. Nele, os trabalhadores “encaram de frente” grandes desafios, como se alguém pudesse encarar alguma coisa senão de frente mesmo, a não ser que o cruel destino lhe haja posto a cara no traseiro.
Em rigor, as frases não se equivalem e é necessário examiná-las separadamente, se desejar enxergar as inanidades que formulam. No primeiro caso, pois o pânico é uma reação irracional, comete-se uma contradição em termos mais que óbvia. Ninguém pode ter ou deixar de ter razão para pânico, porque não é possível haver razão em algo que por definição requer ausência de razão. Então, ao repetir solenemente que não há razão para pânico, os noticiários e notas de esclarecimento (e nós também) estão dizendo uma novidade semelhante a “água é um líquido” ou “a comida vai para o estômago”. Se as palavras pudessem protestar, certamente Pânico escreveria para as redações, perguntando ofendidíssimo desde quando ele precisa de razão. Nunca há uma razão para o pânico.
A segunda frase nega uma verdade evidente. É também mais do que claro que não existe pânico sem motivo, ou seja, o freguês entra em pânico porque algo o motivou, independentemente de sua vontade, a entrar na desagradabilíssima sensação de pânico. “Ninguém, que eu saiba, olha assim para a mulher e diz “mulher, acho que vou entrar em pânico hoje à tarde” e, quando a mulher pergunta por que, diz que é para quebrar a monotonia.”

(João Ubaldo Ribeiro. Motivos para pânico. O Estado de S. Paulo, 17.05.2009.)

Então, ao repetir solenemente que não há razão para pânico, os noticiários e notas de esclarecimento (e nós também) estão dizendo uma novidade semelhante a “água é um líquido” ou “a comida vai para o estômago”.

Neste período, no tom bem humorado que o autor imprime à crônica, a palavra novidade assume um sentido contrário ao que apresenta normalmente. Essa alteração de sentido, em função de um contexto habilmente construído pelo cronista, caracteriza o recurso estilístico denominado:
a) Ironia.
b) Reticência.  
c) Eufemismo.  
d) Antítese.  
e) Hipérbole.  

10. (UNIFESP)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
ESQUECIMENTO

Esse de quem eu era e era meu,
Que foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.
Tudo em redor então escureceu,
E foi longínqua toda a claridade!
Ceguei... tateio sombras... que ansiedade!
Apalpo cinzas porque tudo ardeu!
Descem em mim poentes de Novembro...
A sombra dos meus olhos, a escurecer...
Veste de roxo e negro os crisântemos...
E desse que era meu já me não lembro...
Ah! a doce agonia de esquecer
A lembrar doidamente o que esquecemos...!
      Florbela Espanca

Na última estrofe, o eu lírico expressa, por meio de:
a) Hipérboles, a dificuldade de se tentar esquecer um grande amor.  
b) Metáforas, a forma de se esquecer plenamente a pessoa amada.  
c) Eufemismos, as contradições do amor e os sofrimentos dele decorrentes.  
d) Metonímias, o bem-estar ligado a amar e querer esquecer.  
e) Paradoxos, a impossibilidade de o esquecimento ser levado a cabo. 

11. (FUVEST)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

                Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se enqueixar para o alto, a salvar também de fora o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas. Chu-áa! Chu-áa... - ruge o rio, como chuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda; e depois o pasto: sombra, capim e sossego... Nenhuma pressa. Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como um fogo, e faz medo, não é novo: tudo é ruim e uma só coisa, no caminho: como os homens e os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os olhos. Como sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, amigo da água, bem com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o fim. Nada mais, nada de graça; nem um arranco, fora de hora. Assim.
João Guimarães Rosa. O burrinho pedrês, Sagarana.


Como exemplos da expressividade sonora presente nesse excerto, podemos citar a onomatopeia, em "Chu-áa! Chu-áa...", e a fusão de onomatopeia com aliteração, em:
a) "vestindo água".  
b) "ruge o rio".
c) "poço doido".  
d) "filho do fundo".  
e) "fora de hora".  

12. (FUVEST)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

                Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós.  Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; 1nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia - o amor, o ódio, o egoísmo. 2Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia. Os séculos passam, deslizam, 3levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.
João do Rio. A alma encantadora das ruas.


Em "nas cidades, nas aldeias, nos povoados" (ref. 1), "hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia" (ref. 2) e "levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis" (ref. 3), ocorrem, respectivamente, os seguintes recursos expressivos:
a) eufemismo, antítese, metonímia.  
b) hipérbole, gradação, eufemismo.  
c) metáfora, hipérbole, inversão.  
d) gradação, inversão, antítese.
e) metonímia, hipérbole, metáfora.  

13. (UNIFESP)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
                E disse [Deus]: Certamente tornarei a ti por este tempo da vida; e eis que Sara tua mulher terá um filho. E Sara escutava à porta da tenda, que estava atrás dele.
                E eram Abraão e Sara já velhos, e adiantados em idade; já a Sara havia cessado o costume das mulheres.
                Assim, pois, riu-se Sara consigo, dizendo: Terei ainda deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu senhor já velho? (...)
                E concebeu Sara, e deu a Abraão um filho na sua velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha falado.
(www.bibliaonline.com.br, Gn 18, 10-12; 21, 2.)

No trecho, afirma-se que Abraão e Sara já estavam "adiantados em idade" e que a Sara "já havia cessado o costume das mulheres". Essas expressões são
a) eufemismos, que remetem, respectivamente, à velhice e ao ciclo menstrual.
b) metáforas, que remetem, respectivamente, à idade adulta e ao vigor sexual.  
c) hipérboles, que remetem, respectivamente, à velhice e à paixão feminina.  
d) sinestesias, que remetem, respectivamente, à decrepitude e à sensualidade.  
e) sinédoques, que remetem, respectivamente, à idade adulta e ao amor.  

14. (PUC – SP)
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado (...) Cedendo à meiga pressão, a virgem reclinou-se ao peito do guerreiro, e ficou ali trêmula e palpitante como a tímida perdiz (...) A fronte reclinara, e a flor do sorriso expandia-se como o nenúfar ao beijo do sol (...). Em torno carpe a natureza o dia que expira. Soluça a onda trépida e lacrimosa; geme a brisa na folhagem; o mesmo silêncio anela de opresso. (...) A tarde é a tristeza do sol. Os dias de Iracema vão ser longas tardes sem manhã, até que venha para ela a grande noite.

Os fragmentos anteriores constroem-se estilisticamente com figuras de linguagem, caracterizadoras do estilo poético de Alencar. Apresentam, eles, dominantemente, as seguintes figuras:

a) comparações e antíteses.  
b) antíteses e inversões.  
c) pleonasmos e hipérboles.  
d) metonímias e prosopopeias.  
e) comparações e metáforas.    

15. (FUVEST)
“No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!

Identifique a figura empregada nos versos destacados:
      a)      Antítese
      b)      Anacoluto
      c)       Hipérbole 
      d)      Litotes
      e)  Paragoge

      GABARITO:
    1. A          2. B          3. A          4. C          5. A          6. C          7. B          8. D          9. A          10. E    11. B          12. D          13. A          14. E          15. C