domingo, 12 de janeiro de 2014

Simulado Modernismo Português

Simulado Modernismo Português

Problemas para entender o Modernismo em Portugal e seus desdobramentos no cenário cultural?
Realize o simulado sobre Modernismo em Portugal e tire suas dúvidas.

1. (MACKENZIE)

Graças a Deus que estou doido!
Que tudo quanto dei me voltou em lixo,
E, como cuspo atirado ao vento,
Me dispersou pela cara livre!
Que tudo quanto fui me atou aos pés,
Com a sarapilheira para embrulhar coisa nenhuma!
Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta
E me faz vomitar sem eu ter comido nada!

O trecho anterior faz parte da obra de um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Assinale a alternativa em que aparece outro trecho do mesmo heterônimo.

a) Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que
era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.

b) Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(sob a sombra tranquila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.

c) O deus Pã não morreu,
Cada campo que mostra
Aos sorrisos de Apolo
Os peitos nus de Ceres -
Cedo ou tarde vereis
Por lá aparecer
O deus Pã, o imortal.

d) Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade
E não estou alegre nem triste.
Este é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.

e) Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
Mas com menos perfeição no meu modo de
exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior.

2. (PUC)
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

No poema, de Alberto Caeiro,
a) a visão de mundo não se confunde com a sensação de mundo.
b) a atividade mental é muito lúcida e extremamente racional.
c) o conhecimento da natureza e do mundo é obtido por meio dos sentidos.
d) o entendimento da realidade resulta do exagerado racionalismo do eu-lírico.
e) os termos "rebanho" e "pensamentos" se distanciam por força da metáfora.

3. (MACKENZIE)
Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto. Sê teu filho.
Fernando Pessoa

Assinale a alternativa correta.
a) A métrica desses versos tem o papel de ajudar a construir o significado de desestabilização emocional subjacente a todo o poema.
b) “A alheia vontade”, sujeito sintático de “nunca cumpras”, aponta para o que deve ser evitado na busca da própria soberania.
c) A relação “eu/tu” estabelece-se num tom de orientação construído pela predominância dos verbos no imperativo.
d) A organização do poema em versos decassílabos e hexassílabos constrói um ritmo irregular, impróprio para veicular verdades acabadas.
e) Os dois últimos versos questionam a fatalidade e subvertem o individualismo proposto desde o início.

4. (MACKENZIE)
O poeta ligado ao sentimento nacionalista que tomou conta de Portugal em meio às crises do primeiro período republicano, responsável por Mensagem, obra que retomou a formação de sua pátria, a identificação com o mar, o sonho de um império grande e forte foi:
a) Alberto Caeiro.
b) Ricardo Reis.
c) Mário de Sá-Carneiro.
d) Fernando Pessoa ele mesmo.
e) Álvaro de Campos.

5. (UNIFESP)
Considere os fragmentos a seguir.
Texto I
Ao longo do sereno
Tejo, suave e brando,
Num vale de altas árvores sombrio,
Estava o triste Almeno
Suspiros espalhando
Ao vento, e doces lágrimas ao rio.
Luís de Camões. Ao longo do sereno.

Texto II
Bailemos nós ia todas três, ay irmanas,
so aqueste ramo destas auelanas
e quen for louçana, como nós, louçanas,
se amigo amar,
so aqueste ramo destas auelanas
uerrá baylar.
Aires Nunes. In: Nunes, J.J., Crestomatia arcaica.

Texto III
Tão cedo passa tudo quanto passa!
morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
Fernando Pessoa. Obra poética.

Texto IV
Os privilégios que os Reis
Não podem dar, pode Amor,
Que faz qualquer amador
Livre das humanas leis.
Mortes e guerras cruéis,
Ferro, frio, fogo e neve,
Tudo sofre quem o serve.
Luís de Camões. Obra completa.

Texto V
As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que nunca sonhei!...
Mário de Sá-Carneiro. Poesias.

Assinale a alternativa que contém textos de autoria de poetas do Modernismo português.
a) I e V.
b) II e III.
c) III e IV.
d) III e V.
e) IV e V.

6. (FUVEST)
Já vai andando a récua dos homens de Arganil, acompanham-nos até fora da vila as infelizes, que vão clamando, qual em cabelo, Ó doce e amado esposo, e outra protestando, Ó filho, a quem eu tinha só para refrigério e doce amparo desta cansada já velhice minha, não se acabavam as lamentações, tanto que os montes de mais perto respondiam, quase movidos de alta peidade [...].

Em muitas passagens do trecho transcrito, o narrador cita textualmente palavras de um episódio de Os Lusíadas, visando a criticar o mesmo aspecto da vida de Portugal que Camões, nesse episódio, já criticava. O episódio camoniano citado e o aspecto criticado são, respectivamente:
a) “O Velho do Restelo”; a posição subalterna da mulher na sociedade tradicional portuguesa.
b) “Aljubarrota”; a sangria populacional provocada pelos empreendimentos coloniais portugueses.
c) “Aljubarrota”; o abandono dos idosos decorrente dos empreendimentos bélicos, marítimos e suntuários.
d) “O Velho do Restelo”; o sofrimento popular decorrente dos empreendimentos dos nobres.
e) “Inês de Castro”; o sofrimento feminino causado pelas perseguições da Inquisição.

7. (UFU) Compare as seguintes estrofes.

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

[...]
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Ricardo Reis/Fernando Pessoa.

Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos descobre
A sábia natureza.
Tomás Antônio Gonzaga.

Marque a alternativa incorreta:
a) Ricardo Reis e Tomás Antônio Gonzaga são considerados neoclássicos porque resgatam elementos da tradição literária greco-romana. Uma das características do neoclassicismo é tomar a natureza como modelo, procedimento observado nos versos destes poetas.
b) Os poetas sentam-se e meditam à beira do rio e à sombra do cedro. Ricardo Reis e Tomás Antônio Gonzaga valem-se desses elementos, rio e cedro, como imagens comparativas do fluir incessante da vida.
c) Ricardo Reis trabalha com a consciência da efemeridade da vida: tudo é breve. Dessa consciência, surge a necessidade de se aproveitar o tempo presente (carpe diem), convite que o poeta faz à amada.
d) Aproveitar o tempo, para Ricardo Reis, é simplesmente viver, deixar a vida decorrer, sem nada desejar, como se percebe no verso Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

8. (MACKENZIE) Leia com atenção o texto a seguir.

Se, porém, o dito Deus, não fazendo caso de recomendações, persistisse no propósito de vir até aqui, sem dúvida, acabaria por reconhecer como, afinal, é tão pouca coisa ser-se um Deus, quando, apesar dos famosos atributos de onisciência e onipresença, mil vezes exaltados em todas as línguas e dialetos, foram cometidos, no processo da criação da humanidade, tantos e tão grosseiros erros de previsão, como foi aquele, a todas as luzes imperdoável, de apetrechar as pessoas com glândulas sudoríparas, para depois lhes recusar o trabalho que as faria funcionar – as glândulas e as pessoas.
José Saramago.

A partir do texto, observe as seguintes afirmações.
I. A onisciência e a onipotência de Deus são indiscutíveis, posto que toda a humanidade já as exaltou.
II. Na criação da humanidade, foram cometidos alguns erros de previsão, depois corrigidos à luz da evolução do próprio homem.
III. O homem só se realiza por meio do trabalho e, por isso, é inadmissível que este lhe seja negado.

Assinale:
a) se todas estão corretas.
b) se apenas I está correta.
c) se apenas III está correta.
d) se todas estão incorretas.
e) se apenas II está correta.


9. (UFRS) Leia o texto abaixo.

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move.
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

A leitura do texto nos permite concluir que Fernando Pessoa fala pela voz de:
a) Ricardo Reis, por remeter a temas e formas da poética clássica.
b) Alberto Caeiro, pelo tratamento simples da natureza com a qual se sente intimamente ligado.
c) Álvaro de Campos, que representa o mundo moderno e a vanguarda futurista.
d) Pessoa, ele mesmo, por expressar traços marcantes da poesia do século XX.
e) Bernardo Soares, por adotar uma atitude intimista.

 10. (UFJF) Uma estrofe famosa do poema Autopsicografia, de Fernando Pessoa, é:

O poeta é um fingidor./ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente.

A partir dela e pensando na obra do poeta como um todo, é correto afirmar:
a) Fernando Pessoa, com a proposta do fingimento poético, rompe com o confessionalismo romântico.
b) somente Álvaro de Campos pode ser representante do fingimento poético, pois é um poeta futurista.
c) o fingimento poético não está presente na obra de Alberto Caeiro, pois ele é um pastor simples e sincero.
d) a única parte da obra pessoana que escapa do fingimento são os poemas de Fernando Pessoa ele mesmo.
e) Ricardo Reis, como poeta clássico, não pode ser estudado pelo fingimento modernista.

11. (FGV) Este poema integra a obra poética de Fernando Pessoa. Seu autor é um homem simples, que viveu em contato direto com a natureza; é o poeta do real sensível. Pode-se dizer que, assim, manifesta uma forma de pensar apenas diferente e não ausência de reflexão. É autor dos versos:

[...]
Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas coisas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixaria de ver a Terra,
Para ver só os pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.

Trata-se de:
a) Alberto Caeiro.
b) Ricardo Reis.
c) Bernardo Soares.
d) Fernando Pessoa, ele mesmo.
e) Álvaro de Campos.

12. (UFRS) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto a seguir, na ordem em que aparecem.

Ao concretizar o projeto de um poeta múltiplo, Fernando Pessoa cria ________ com diferentes _____ entre os quais Ricardo Reis e Álvaro de Campos, com obras de tendência, respectivamente, _____ e _____.

a) pseudônimos – imagens – clássica – simbolista.
b) heterônimos – linguagens – neoclássica – modernista.
c) pseudônimos – estilos – simbolista – modernista.
d) heterônimos – temáticas – romântica – futurista.
e) heterônimos – visões de mundo – surrealista – vanguardista.

13. (FAAP) Leia o texto a seguir

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha [aldeia]
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que veem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
(Fernando Pessoa)

O autor escreveu usando, além do próprio nome, os heterônimos: ALBERTO CAEIRO é rude, simples, humilde, expansivo, satisfeito com o mundo, dando muito valor às coisas concretas: árvores, campos, casas, vales. Nada tem de filósofo ou metafísico. RICARDO REIS retoma o período greco-romano, é o poeta da temática clássica. ÁLVARO DE CAMPOS é o poeta da temática futura, "poeta sensacionalista e escandaloso". As poesias que aparecem com a assinatura de Fernando Pessoa têm uma temática de dor, ceticismo, idealismo, melancolia e tédio. Então este poema Tejo - tem a assinatura de:
a) Alberto Caeiro
b) Ricardo Reis
c) Álvaro de Campos
d) Fernando Pessoa (ele mesmo)
e) o poema não apresenta dados para conclusão

14. (UNIFESP)

A Criança que Pensa em Fadas

A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto


O teólogo Leonardo Boff, em entrevista à revista Filosofia, diz:
Eu me lembro agora, sábado, de um menino de oito anos, que veio e me disse: “Vô, por que as coisas existem?” A filosofia começa com isso. Respondi que elas existem porque existem. E aí até citei um poeta, Angelus Silesius: “A flor floresce por florescer / Não pergunta se a olham / E sorri pro universo. A rosa é sem porquê.” E ele disse: “E eu? O que eu faço aqui nesse mundo?” Oito anos de idade e já colocou as questões da metafísica fundamentais.

(Filosofia – ciência & vida, Ano 1, n.º 05.)


No poema de Caeiro, o ponto de vista de Silesius, com o qual concorda Boff, é

a) confirmado, pois o eu lírico entende que a existência está ligada a um deus.
b) negado, pois o eu lírico entende que se deve evitar o questionamento da metafísica.
c) negado, pois o eu lírico entende que a existência é uma grande falta de razão.
d) confirmado, pois o eu lírico entende que o existir por si só já basta.
e) negado, pois o eu lírico entende que não se apreende a realidade senão por intermédio de um deus.

15. (UNIFESP)
A Criança que Pensa em Fadas

A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.

(Alberto Caeiro)

Nos versos, fica evidente o perfil do heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, pois ele
a) entende que o homem está atrelado a uma visão subjetiva da existência.
b) volta-se para o mundo sensível que o rodeia como forma de conceber a existência.
c) concebe a existência como apreensão dos elementos místicos e indefinidos.
d) não acredita que a existência possa ser definida em termos de objetividade.
e) busca na metafísica a base de uma concepção da existência subjetiva.

Gabarito:
1. A          2. C          3.C          4. D          5. D          6. D          7. B          8. C         9. B 
10. A       11. A          12. B         13. A          14. D          15.  B